Indústria
Extractiva e Redução da Pobreza:
Porque
continuamos pobres cercados de muitas riquezas?
Durante muito tempo velhas máximas se encarregaram de
elucidar a todos os interessados e aos aprendizes (cultores) das problemáticas
de desenvolvimento que África e os africanos não são ou eram pobres, mas que
foram empobrecidos estrategicamente pelos europeus, outrora colonizadores.
Já António Guterres Alto Comissário das Nações Unidas
Para os refugiados e antigo Primeiro-Ministro português, numa palestra proferida
em Maputo, na actual Universidade A politécnica de Moçambique, em 2004,
apontava que a realidade africana foi forjada no tempo colonial (pelos
europeus), daí que, actualmente, verificam-se muitas situações em que
determinados países africanos desenvolvem mais trocas comerciais e estabelecem
melhores relações com países europeus e outros estrangeiros do que com os
vizinhos africanos.
Neste diapasão, mas muito mais categórico foi a visão do
notável cientista social e engenheiro agrónomo francês, René Dumont, que quase
que profético referiu em 1966 que África Negra começou mal. Muitas foram
críticas, acusações feitas a este distinto cientista pelas suas constatações na
altura, mas, volvidos mais de 20, 30 anos, muitos atribuíram-lhe razão. Dumont
constatara na altura (1966 em sua obra “África Negra Começou Mal”) que o modelo
económico, social, urbano e rural adoptado pelos novos Países Africanos
Independentes, repetia os erros coloniais. Mal poderia supor René Dumont o quão
perto andaria da actual realidade africana.
Actualmente, África cresce dentro de um ritmo de Idade
Média em simultâneo com a era moderna dos mísseis Stingers, das novas
tecnologias de comunicação e informação. São os conflitos armados, as questões
étnicas – geográficas mal resolvidas da era colonial. Crises políticas fruto da
ganância do poder e do dinheiro. São também as más planificações dos espaços
geográficos populacionais gerando os excessos demográficos nas cidades, focos
de marginalidade e crime organizado ao aluguer muitas das vezes com o
beneplácito de políticos corruptos que alugam esses serviços entre outros como
observa João Craveirinha.
Contudo, razões são muitas que são usadas ou que poderiam
serem usadas para explicar a pobreza no continente africano e concretamente na
África Negra.
Ora, volvidos mais de 30, 50 anos de independência fica
difícil justificar porque é que continuamos pobres especialmente com a
abundância de recursos.
Por hora, cinjamo-nos no caso moçambicano. Moçambique
está situado na costa sudoeste de África, numa posição estratégica dado que
funciona como uma porta de entrada para seis países, protegendo os
flancos da África do Sul e do Zimbabwe. Possui fronteiras a norte com a
Tanzânia, Malawi e Zâmbia, a oeste com o Zimbabwe e a África do Sul e a sul
também com este país. A situação geográfica de Moçambique é das mais interessantes do
continente Africano, pois ela integra três das grandes regiões naturais,
nomeadamente: a África Oriental, África Central e África Austral.Com uma
superfície de 799380km², de água firme e de 13000km² a superfície de águas
interiores e tendo uma fronteira terrestre de 4330km² do Rovuma a Ponta D’Ouro.
Moçambique possui uma vasta e rica
costa, banhado pelo oceano indico, atravessado pelo canal de moçambique, conta
com maís de 80 Rios, alguns deles com uma importância económica a destacar.
As principais bacias hidrográficas
são de norte para sul, as do Rio Rovuma, Lúrio, Ligonha, Zambeze, Púngue, Save,
Limpopo e Incomati.
O país
possui 36 milhões de hectares aráveis (potencial agrário), possui a terceira
maior baia do mundo, baia de pemba. (Potencial turístico)
Moçambique é rico em fauna
e flora, terrestres e marítimas. A orografia e o clima determinam três tipos de
vegetação: floresta densa nas terras altas do Norte e Centro do País, floresta
aberta e savana no Sul e, na zona costeira, os mangais. Estes ecossistemas
constituem o habitat de espécies selvagens como elefantes, leões, leopardos,
chitas, hipopótamos, antílopes, tartarugas e grande número de aves. A esta
riqueza associam-se belas paisagens, quer nas zonas altas, quer nas zonas
costeiras.
Durante anos o país teve em seu solo o maior
palmar do mundo, na província da Zambézia. Possui actualmente cerca de 23
milhões de habitantes cuja maioria é jovem (população activa -força de
trabalho), possui igualmente mais de cerca de 40 instituições de ensino
superior, e maior reserva de titânio do mundo, possui significas reservas de
carvão mineral, sal, grafite, bauxita, ouro,
mármore, madeira, recursos pesqueiros, pedras preciosas e semipreciosas.
Recentemente, a Multinacional Americana Anadarko confirmou uma das maiores
descobertas de significantes reservas de gás natural em águas profundas dos
últimos 10 anos na área 1 da bacia do rio Rovuma.
Além disso, moçambique destaca-se
por ser um dos países que possui leis mais promotoras dos direitos dos
trabalhadores, das liberdades políticas e civis, diversidade étnica -
linguística e relações amigáveis e de cooperação com o resto do mundo. Em 2009
era o país que recebia ajuda externa e acima de tudo o governo moçambicano
colocou o combate a pobreza no topo da agenda nacional, constitui a prioridade
máxima. Então porque continuamos pobres?
Vezes sem conta, procuramos
sublinhar e realçar, aqui, uma importante verdade:
A riqueza não está no subsolo, na
superfície, nos 80 rios que o país possui, na floresta, na rica e extensa
costa, fauna, flora ou no vasto oceano indico e suas maravilhas. Está sim na
capacidade de transformar esses recursos que por sinal possui em abundância em
bens e serviços e colocá-los ao serviço do bem-estar de todos, do
desenvolvimento económico, social, científico, cultural e finalmente humano e
sustentável.
O que falta e o que é necessário é
criar condições para o alargamento das capacidades das pessoas de fazerem
escolhas, de gozarem de uma vida longa, saudável e criativa a partir da gestão
sustentável, transparente dos recursos, promovendo igualmente, o alargamento e
o aprofundamento da justiça social, da democracia, conferindo especialmente aos
grupos mais vulneráveis e desfavorecidos, um padrão de vida decente e digno,
empoderando-os. Fazendo isso, responderíamos as exigências, necessidades
imperiosas e inadiáveis da Boa – Governação. Pois, isso é o que falta fazer
para que os abundantes recursos que o país dispõe se transformem em riqueza
nacional no verdadeiro sentido do termo.
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