terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

NOSSOS DIAS MELHORES NUNCA VIRÃO?

Ando em crise, numa boa, nada de grave. Mas, ando em crise com o tempo. Que estranho “presente” é este que vivemos hoje, correndo sempre por nada, como se o tempo tivesse ficado mais rápido do que a vida, como se nossos músculos, ossos e sangue estivessem correndo atrás de um tempo mais rápido.

As utopias liberais do século 20 diziam que teríamos mais ócio, mais paz com a tecnologia. Acontece que a tecnologia não está aí para distribuir sossego, mas para incrementar competição e produtividade, não só das empresas, mas a produtividade dos humanos, dos corpos. Tudo sugere velocidade, urgência, nossa vida está sempre aquém de alguma tarefa. A tecnologia nos enfiou uma lógica produtiva de fábricas, fábricas vivas, chips, pílulas para tudo.
Temos de funcionar, não de viver. Por que tudo tão rápido? Para chegar aonde? A este mundo ridículo que nos oferecem, para morrermos na busca da ilusão narcisista de que vivemos para gozar sem parar? Mas gozar como? Nossa vida é uma ejaculação precoce. Estamos todos gozando sem fruição, um gozo sem prazer, quantitativo. Antes, tínhamos passado e futuro; agora, tudo é um “enorme presente”, na expressão de Norman Mailer. E este “enorme presente” é reproduzido com perfeição técnica cada vez maior, nos fazendo boiar num tempo parado, mas incessante, num futuro que “não pára de não chegar”.

Antes, tínhamos os velhos filmes em preto-e-branco, fora de foco, as fotos amareladas, que nos davam a sensação de que o passado era precário e o futuro seria luminoso. Nada. Nunca estaremos no futuro. E, sem o sentido da passagem dos dias, da sucessividade de momentos, de começo e fim, ficamos também sem presente, vamos perdendo a noção de nosso desejo, que fica sem sossego, sem noite e sem dia. 

Estamos cada vez mais em trânsito, como carros, somos celulares, somos circuitos sem pausa, e cada vez mais nossa identidade vai sendo programada. O tempo é uma invenção da produção. Não há tempo para os bichos. Se quisermos manhã, dia e noite, temos de ir morar no mato.

Fui ver as fotos antigas da família...
Queria ver o meu passado, ver se havia ali alguma chave que explicasse meu presente hoje, que prenunciasse minha identidade ou denunciasse algo que perdi, ou que Moçambique perdeu… Em meio às imagens  riscadas, fora de foco, vi a precariedade de minha pobre família de classe nem média,, muito menos média-alta, tentando exibir uma felicidade familiar que até existia, mas precária, constrangida; e eu ali, menino barriga enorme feito uma mulher prenha, já denotando a insegurança que até hoje me alarma. Minha crise de identidade já estava traçada. E não eram imagens de um passado bom que decaiu, como entre os índios.

Era um presente atrasado, aquém de si mesmo.

Vendo filmes americanos dos anos 40, não sentimos falta de nada. Com suas geladeiras brancas e telefones pretos, tudo já funcionava como hoje. O “hoje” deles é apenas uma decorrência contínua daqueles anos. 

Mudaram as formas, o corte das roupas, mas eles, no passado, estavam à altura de sua época. A Depressão económica tinha passado, como um grande trauma, e não aparecia como o nosso subdesenvolvimento endêmico. Para os americanos, o passado estava de acordo com sua época. Na década 90, éramos carentes de alguma coisa que não percebíamos. Olhando nosso passado é que vemos como somos atrasados no presente

E nós, hoje, nesta infernal transição entre o atraso e uma modernização que não chega nunca? Quando é  que Moçambique vai crescer? Quando cairão afinal os “juros” da vida? Chego a ter inveja das multidões pobres do Islão: aboliram o tempo e vivem na eternidade de seu atraso. 

Aqui, sem futuro, vivemos nessa ansiedade individualista medíocre, nesse narcisismo brega que nos assola na moda, no amor, no sexo, nessa fome de aparecer para existir. Nosso atraso cria a utopia de que, um dia, chegaremos a algo definitivo. Mas, ser subdesenvolvido não é “não ter futuro”; é nunca estar no presente.

Grande Ronaldo "O Fénomeno" pendura as chuteiras aos 34 anos

Ronaldo não conteve as lágrimas na hora da despedida. Aos 34 anos o fenómeno disse adeus ao futebol, justificando a sua decisão com os problemas de saúde que há muito o vêm atormentando.

Um final inglório para um dos expoentes máximos na história do desporto rei, mas que assumiu graciosamente a derrota: “É muito duro abandonar algo que te fez tão feliz, pelo qual tenho tanto amor e que poderia ainda seguir. Psicologicamente quero muito, mas tenho que assumir algumas derrotas: eu perdi para o meu corpo.”

O ponto alto na carreira de Ronaldo aconteceu em dois mil e dois quando liderou o Brasil à vitória no mundial depois de renascer das cinzas. Após as graves lesões contraídas ao serviço do Interde Milão, não faltou quem o desse como acabado para o futebol.

O brasileiro fez questão de mostrar que estavam errados e é hoje o jogador com mais golos na história do campeonato do mundo. Quem perde são os adeptos, mas nem todos, como este adepto do Flamengo que pode finalmente suspirar de alívio: “É ótimo! Sou flamenguista graças a Deus e estava já na hora de se reformar. Estava gordo!”

Uma opinião que não é partilhada por todos, e há mesmo quem revele o segredo para não sentir saudades do fenómeno: “Vai deixar muitas saudades, mas ele vai estar sempre a aparecer na Comunicação Social e vamos conseguir matar essa saudade.”

Para a história ficam os golos que encantaram toda uma geração do primeiro Ronaldo a colocar o planeta do futebol aos seus pés.