Em novo livro, autores mostram como as máquinas podem prever comportamentos. O Google faz. A Amazon faz. O Walmart faz. E, como mostram notícias recentes, o governo dos Estados Unidos também.
Faz o
quê? Analisam uma enxurrada de dados sobre quase todos os aspectos de nossas
vidas a fim de identificar padrões de comportamento e fazer prognósticos. Esse
processamento de uma grande quantidade de dados é chamado de “Big Data”.
A Amazon,
por exemplo, usa dados de clientes para sugerir produtos com base no histórico
de compras. O Google recorre às nossas informações para vender anúncios e
alimentar serviços e produtos. A Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na
sigla em inglês), segundo reportagens recentes, colecta registos telefónicos de
milhões de pessoas e dados de e-mails, chamadas de áudio e vídeo, fotos,
documentos e logins de empresas de internet, como Microsoft, Yahoo, Google,
Facebook e Apple. O objetivo é monitorar pessoas que ofereçam ameaça à
segurança do país.
Por que
usar rede tão gigantesca para procurar meia dúzia de suspeitos de terrorismo?
“Quem quer procurar uma agulha no palheiro precisa antes ter um palheiro”, diz
Jeremy Bash, que foi chefe de gabinete do ex-director da CIA e ex-secretário de
Defesa Leon Panetta.
Por
que usar rede tão gigantesca para procurar meia dúzia de suspeitos de
terrorismo? “Quem quer procurar uma agulha no palheiro precisa antes ter um
palheiro”, diz Jeremy Bash, que foi chefe de gabinete do ex-diretor da CIA e
ex-secretário de Defesa Leon Panetta.
Em Big
Data, um livro esclarecedor e muito oportuno escrito por Viktor
Mayer-Schönberger, professor da Universidade de Oxford, e Kenneth Cukier,
editor de dados da revista Economist –, os autores argumentam que o
monitoramento mudou.
“No
espírito do Google e do Facebook”, escrevem, “a ideia é que as pessoas são a
soma de relações sociais, interacções online e conteúdos que acedem. Para
investigar um indivíduo, é preciso examinar o amplo espectro dos dados que o
cerca.”
Cukier
e Mayer-Schönberger sustentam que a análise de Big Data está revolucionando a
maneira como vemos – e processamos – o mundo, um panorama fascinante e
alarmante do impacto em todas as áreas.
Na eleição
de 2012 nos EUA, a campanha de Obama usou análises de dados para montar uma
formidável máquina política para identificar potenciais eleitores. E a
prefeitura de Nova York também empregou esse tipo de recurso para aumentar a
eficiência de actividades como o atendimento em situações de calamidade pública
e a identificação de locais que vendem cigarros contrabandeados. O
volume de dados disponíveis dobra a cada dois anos e Cukier e Mayer-Schönberger
argumentam que, com a queda dos custos, as técnicas de análise estão se
democratizando. O Big Data fez surgir uma série de novas empresas e ajudou as
que já existiam a melhorar o atendimento ao consumidor.
Num
futuro próximo, afirmam Cukier e Mayer-Schönberger o Big Data fará cada vez
mais “parte da solução para graves problemas globais, como a questão da mudança
climática, a erradicação de doenças e o fomento à boa governação e ao
desenvolvimento económico”.
O Big
Data também tem seu lado negro. “A captura de dados pessoais está presente na
maioria das ferramentas que usamos, de sites na internet a aplicativos para
smartphones”, assinalam. O segundo perigo citado pelos autores lembra o filme
de ficção científica Minority Report, que retrata um mundo em que as pessoas
podem ser detidas por crimes antes mesmo de cometê-los. No futuro próximo,
sugerem os autores, as análises de Big Data poderão fazer projecções de
comportamento de cada pessoa. Seguradoras, por exemplo, já usam análises
preventivas do tipo.
Um dos
aspectos problemáticos dessas previsões, advertem Mayer-Schönberger e Cukier, é
que elas podem negar “o princípio da presunção de inocência”.
Ao
mesmo tempo, o Big Data exacerba “um problema muito antigo: confiar
exclusivamente em números, embora eles sejam muito mais sujeitos a erro do que
imaginamos”. Fracassos recentes incluem a quebra de Wall Street em 2008, que
foi agravada por sistemas de negociação baseados em algoritmos matemáticos.
Além
disso, como o músico e cientista da computação Jaron Lanier aponta em seu
livro Who Owns the Future?, existe uma enorme diferença entre Big
Data científico – dados sobre formação das galáxias ou surtos de gripe – e Big
Data sobre pessoas, que é multifacetado, contraditório e pouco confiável.
A seu
favor, Cukier e Mayer-Schönberger reconhecem as limitações dos números. Apesar
de o livro provocar simpatia e interesse pelas ferramentas de Big Data para
“quantificar e entender o mundo”, ele também alerta-nos sobre ficar a mercê da
“ditadura dos dados”.
O que
é Big Data?
O termo é usado para
descrever o processamento de volumes muito grandes de informação como, por
exemplo, todos os textos da Biblioteca Nacional ou o histórico de buscas dos
brasileiros no Facebook. Big Data reúne e organiza gigantescas quantidades de
dados para fins públicos ou comerciais. Em 2009, o Google ajudou a prever
surtos de H1N1 nos EUA com seus dados de buscas por remédios contra gripe. Os registos
de buscas também servem para que empresas criem anúncios direccionados.
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