Com indecisão em relação ao conflito, presidente
americano não somente fortaleceu os inimigos e enfraqueceu os apoiantes, como
também falhou em sua principal missão como líder.
Tomar decisões sobre
guerra e paz, sobre vida e morte é requisito principal da candidatura ao cargo
de presidente dos Estados Unidos. No primeiro ano de seu mandato, Obama tomou
explicitamente para si essa tarefa: "Quando um problema tem uma solução
clara, ele não vem parar na minha mesa. A única coisa que eu decido são as
questões difíceis", disse o presidente americano em entrevista.
No entanto, foi
justamente isso que Obama não fez no caso da Síria. Desde o início do conflito,
em março de 2011, ele hesitou e titubeou. Foram necessários meses de violência
até que Obama se posicionasse e exigisse a renúncia de Assad. Ele descartou uma
intervenção militar e o envio de armas à oposição. Consequências: nenhuma.
Guiado em vez de guiar
Quando um porta-voz do
Pentágono, seguido pela então secretária de Estado Hillary Clinton, falou do
uso de armas químicas como uma linha vermelha, em meados de 2012, Obama só os
acompanhou nove dias depois.
Apoiado por Hillary, o
Pentágono apresentou a Obama, em seguida, planos para o fornecimento de armas
aos rebeldes. Ele rejeitou. Consequências: nenhuma.
Quando surgiram os
primeiros relatos sobre o emprego de armas químicas, Obama se referiu a isso
como um "game changer", ou seja, como uma mudança de jogo. Depois que
a inteligência americana confirmou esse uso, Obama disse que era preciso
primeiro descobrir quem foi o responsável. Consequências: nenhuma.
Quando o novo chefe do
Pentágono, Chuck Hagel, declarou finalmente que os EUA estariam avaliando o
envio de armas, Obama logo se juntou a ele. Ao mesmo tempo, ele advertiu que
primeiro era necessário "olhar antes de saltar". Consequências: nenhuma.
Sem bússola
Finalmente, em meados de
2013 – de acordo com dados das Nações Unidas mais de 90 mil pessoas morreram
até então na guerra síria – Obama aprovou o envio de armas. Mas mesmo quando
Washington confirmou os relatos sobre um uso em larga escala de armas químicas
pelo regime de Assad, ele continuou a hesitar.
A princípio, ele
explicou que tinha se decidido por uma intervenção militar. Quando, no entanto,
o Parlamento Britânico rejeitou uma participação, Obama mudou de curso numa
questão de horas e passou também a querer a aprovação de seu Congresso.
Como é previsível que o
Congresso poderia recusar o seu consentimento, seguiu-se a última pirueta
retórica até o momento: o secretário de Estado John Kerry disse que, caso a
Síria submeta suas armas químicas ao controle internacional, os EUA poderiam
abster-se de uma ação militar. Após a Rússia e o regime de Assad receberem a
notícia de bom grado, o governo Obama adiou até nova ordem o ataque planejado e
tenta novamente ganhar tempo.
Falando claramente:
existem razões lógicas a favor e contra um ataque militar. Uma solução ideal
não existe. Em ambas as alternativas, os riscos superam em muito os potenciais
benefícios: um dilema clássico.
Sem estratégia
Mas justamente para
decidir situações em que há somente soluções ruins, os presidentes dos EUA são
eleitos. E quem ainda, como o próprio Obama, se orgulha desse poder de decisão,
dele é esperado que satisfaça essa exigência em tempos de crise. Obama não fez
isso.
Desde o início da
guerra, há dois anos e meio, Obama hesitou, titubeou e tentou ganhar tempo. Ele
não tem guiado a situação, tem somente reagido à pressão de seu próprio
gabinete, da oposição e dos acontecimentos na Síria. Até hoje, não se pode
reconhecer uma estratégia para a Síria nem de forma genérica.
Por esse motivo, também se encaixa nesse cenário o fato
de que, pela primeira vez, o presidente Obama – depois de dois anos e meio de
guerra com mais de 100 mil mortos – queria ele mesmo falar ao povo americano
sobre a questão da Síria.