Tendo em conta a constante valorização mediática do superficial e do anedótico, é bem provável que o discurso de Barack Obama, agradecendo o Prémio Nobel da Paz, acabe muitas vezes por ser reduzido a citações mais ou menos telegráficas, fora de contexto, aliás, um pouco por toda a parte, já está a sê-lo.
Não que as palavras do Presidente dos EUA sejam, possam ser ou devam ser consensuais. Aliás, num misto de objectividade e distanciamento, a BBC resume a sua dura complexidade através de um título revelador: “Obama defende a guerra no momento de receber o Prémio Nobel da Paz”. Daí a necessidade de não nos ficarmos por frases soltas, supostamente portadoras de "polémica" ou mediaticamente forçadas a isso — daí também a sugestão a leitura do discurso, na íntegra, através do link disponível no final deste texto.
Afinal de contas, este foi o discurso em que, a certa altura, Obama disse: "Temos que começar por reconhecer a crua verdade: não conseguiremos erradicar os conflitos violentos durante as nossas vidas. Haverá momentos em que as nações — agindo individualmente ou em aliança — considerarão o uso da força, não apenas necessário, mas moralmente justificado."
Devo confessar que, este foi um discurso de enorme complexidade política e de radical desafio filosófico. No seu ponto de fuga utópico, e de acordo com a herança ética de Martin Luther King Jr, recordada por Obama, está ali patente a vontade de não abdicar daquilo que King chamava a possibilidade moral (ou seja, "oughtness", na língua da sua majestade) do ser humano — Let us reach for the world that ought to be.
Um preâmbulo de "grande humildade" e uma longa apologia da "guerra justa", contra "um adversário que não conhece regras", cunharam quinta-feira passada, em Oslo, a intervenção de Barack Obama na cerimónia de entrega do Nobel da Paz. Ao receber o Prémio, o Presidente dos Estados Unidos reconheceu a "considerável controvérsia" gerada pela decisão do Comité.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixe o seu comentário aqui